INTRODUÇÃO
No primeiro livro da Ética, a idéia de expressão aparece desde a definição 6: “Por Deus entendo um ser absolutamente infinito , por outras palavras, uma substância constituída de uma infinidade de atributos , dos quais cada um exprime uma essência eterna e infinita.” Essa idéia ganha a partir daí uma importância cada vez maior. Ela é retomada em contextos variados. Ora Espinosa diz: cada atributo exprime uma certa essência eterna e infinita, uma essência correspondente ao gênero do atributo. Ora: cada atributo exprime a essência da substância, seu ser ou sua realidade. Ora, por fim: cada atributo exprime a infinidade e a necessidade da existência substancial, ou seja, sua eternidade [1]. E, sem dúvida, Espinosa mostra muito bem como passamos de uma fórmula à outra. Cada atributo exprime uma essência, mas exprime em seu gênero a essência da substância; e a essência da substância envolvendo necessariamente a existência, pertence a cada atributo exprimir, com a essência de Deus, sua existência eterna. Nós devemos, portanto, distinguir um segundo nível de expressão, um tipo de expressão da expressão. Em primeiro lugar, a substância se exprime nos seus atributos, e cada atributo exprime uma essência. Mas, em segundo lugar, por sua vez, os atributos se exprimem: eles se exprimem nos modos que deles dependem, e cada modo exprime uma modificação. Nós veremos que o primeiro nível deve ser compreendido como uma verdadeira constituição, quase uma genealogia da essência da substância. O segundo deve ser compreendido como uma verdadeira produção das coisas. Com efeito, Deus produz uma infinidade de coisas porque sua essência é infinita; mas porque ele tem uma infinidade de atributos, produz as coisas em uma infinidade de modos dos quais cada um reenvia ao atributo no qual esta contido
[1] As formas correspondentes são, na Ética : 1) aeternam et infinitam certam essentiam exprimit (I, 10, sc.). 2)divinae substantiae essentiam exprimit (I, 19 dem.); realitatem sive esse substantiae exprimit (I, 10, sc.). 3) existentiam exprimunt (I, 10, c.). Os três tipos de fórmulas se encontram reunidas em I, 10, sc. Esse texto comporta a esse respeito nuances e deslizamentos extremamente sutis.
[3] E, I, 36, dem. (et 25, cor. : Modi quibus Dei attributa certo et determinato modo exprimuntur.)
[5] E, II, 1, dem.
[6] TTP, ch. 4 (II, p. 136).
[7] TER, 108 (infinitatem exprimunt).
Cleiton:
ResponderExcluirEsse "comentário" é só para dizer que consegui visualizar o post corretamente.
Depois faço um comentário "de verdade".
Cleiton:
ResponderExcluirEu tenho esse livro de Deleuze na minha biblioteca spinozana. É verdade que ele é mais um dos "não lidos" que lá figuram. Apesar de apreciar Deleuze, e já ter lido o seu "óbvio" "A Filosofia Prática", há outros livros que figuram numa pretensa "fila" antes de "Spinoza et le probleme de l'expression", que são "Problèmes du spinozisme", do P-F. Moreau, e "Le rationalisme de Spinoza", do Ferdinand Alquié. Esses dois autores são, também, duas "feras". O primeiro propriamente do Spinozismo e o segundo, talvez, do Racionalsimo moderno de um modo geral.
Eu queria deixar registrado - apesar de tu talvez já teres conhecimento - que há um livro chamado "Expressão - Espinosa em Deleuze / Deleuze em Espinosa", de Daniel Lins, publicado pela editora Forense Universitária, em 2007. O livro está, também, na lista dos "não lidos". Entretanto, quando vi teu post, fui dar uma espiadela no tal livro. O título não foi casual, havendo referências ao livro que tu estás a comentar. Portanto, imagino que poderá vir a ser uma referência interessante... pelo menos em termos de uma espécie de "diálogo" sobre o assunto "expressão" em Spinoza, visto pela óptica de Deleuze.
Cleiton:
ResponderExcluirGostei muito das tuas considerações sobre a minha ideia de que o terceiro gênero de conhecimento spinozano talvez pudesse alcançar um conhecimento do númeno kantiano.
Infelizmente, só as percebi muito depois de que já as tinha postado. De qualquer forma, separei-as para fazer um comentário. Sei que estás meio ocupado por conta do final do teu mestrado e, por isso, não vou pedir correria em nada. Mas, realmente, gostaria de que apreciasses a análise que mandarei em breve... ou postarei no blog.